•AS COMUNIDADES PRÓ-ENVELHECIMENTO•
Da reflexão sobre as dimensões de um envelhecimento saudável e bem-sucedido, decorre o imperativo de promover o desenvolvimento e o envelhecimento sustentáveis da sociedade e dos cidadãos, enquanto direito humano. É fundamental desenvolver acções no sentido de construir uma sociedade coesa, pacífica, equitativa e segura, maximizando as contribuições económicas e sociais de todos os cidadãos, em todos os momentos do ciclo de vida.
Por serem os contextos de vida de grande parte dos cidadãos, uma forma potencialmente benéfica de promover o envelhecimento saudável e bem-sucedido da população é a criação de Comunidades Pró-Envelhecimento (CP-E), ou seja, Comunidades centradas nas necessidades dos cidadãos nas diferentes fases do ciclo de vida e processo de envelhecimento, com uma ênfase particular nos cidadãos adultos de hoje (os futuros cidadãos seniores) e nos cidadãos que actualmente, já são considerados idosos.
As CP-E permitem rentabilizar e potenciar o valor pessoal e social dos cidadãos, de modo a que todos, independentemente da sua idade, possam desenvolver-se e contribuir activamente para a sociedade, desfrutando plenamente das suas vidas, com níveis elevados de bem-estar e qualidade de vida, ao longo de todo o ciclo de vida.
As CP-E são ambientes comunitários inclusivos, cujas políticas, serviços e estruturas optimizam oportunidades para a saúde, a segurança, a aprendizagem ao longo da vida e a cidadania activa, reconhecendo as capaComunidades e recursos dos cidadãos, seja qual for a sua idade, respeitando as suas necessidades e decisões e permitindo-lhes envelhecer saudavelmente e com sucesso.
Nas CP-E todos cidadãos são percepcionados como possuindo valor e um amplo leque de capaComunidades e recursos; existe respeito, justiça e equidade. As diferenças de género são consideradas e é dada uma atenção especial a grupos mais vulneráveis de cidadãos. Os cidadãos são envolvidos, numa abordagem participativa e de empowerment individual e comunitário, na acção comunitária e na construção das políticas públicas.
Deste modo, as CP-E constituem contextos seguros e de envelhecimento para todos e não apenas para os cidadãos seniores. Cenários sociais e físicos que promovam a mobilidade e independência, a segurança e a tranquilidade, uma rede de apoio e serviços sociais ampla e diversificada são benéficos para toda a comunidade. Por exemplo, ruas sem obstáculos aumentam a mobilidade e a independência de jovens, adultos ou idosos; um bairro seguro e com os serviços necessários, permite que cidadãos de todas as idades se sintam confiantes para participar em actividades sociais.
Neste sentido, as Comunidades devem ser capazes de preparar planos e implementar acções para que os cidadãos possam envelhecer saudavelmente e com sucesso. São necessárias acções de prevenção dos riscos, de promoção de comportamentos saudáveis e de promoção da capaComunidade funcional, respondendo às necessidades dos cidadãos seniores de hoje e daqueles que o virão a ser no futuro.
Construir uma CP-E é uma responsabilidade de todos os cidadãos que envolve uma abordagem intersectorial e uma multipliComunidade de acções a diferentes níveis, sempre com o objectivo de construir e manter competências e capacidades funcionais, bem-estar e saúde, redes sociais, envolvimento e contribuição cívica e mobilidade ao longo de toda a vida.
Dimensões das Comunidades Pró-Envelhecimento
Partindo daquelas que são as dimensões essenciais de um envelhecimento saudável e bem-sucedido, consideramos serem dimensões fulcrais das Comunidades Pró-Envelhecimento as seguintes: segurança, habitação e mobilidade; bem-estar e saúde; relações sociais e inclusão; cultura e educação ao longo da vida; participação cívica e emprego.
Estas dimensões interagem e alimentam-se umas às outras para gerar Comunidades Pró-Envelhecimento:
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Segurança, Habitação e Mobilidade. As CP-E possuem planos estratégicos e/ou programas de prevenção da criminalidade, da fraude financeira, da violência e do abuso (físico, sexual, psicológico e financeiro) de todos os cidadãos, nomeadamente dos cidadãos seniores. As infra-estruturas públicas, interiores ou exteriores, são seguras acessíveis a todos os cidadãos, independentemente da sua idade e capacidade funcional. A habitação é economicamente e fisicamente acessível, condigna e confortável. As CP-E implementam programas de incentivo à actividade física regular e de facilitação da mobilidade, através do investimento em infra-estruturas adequadas a todos e a sistemas de transportes públicos que respondam às necessidades de todos os cidadãos.
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Bem-Estar e Saúde. As CP-E possuem um conjunto diversificado e acessível de Serviços de Saúde, Serviços Sociais e actividades de lazer. Existem programas de promoção da literacia sobre o envelhecimento, a saúde e o bem-estar; de promoção de estilos de vida saudáveis; de prevenção da doença e de quedas, assim como de promoção da auto-regulação e literacia em saúde. As CP-E trabalham em conjunto com Psicólogos, num rácio-adequado, e com um Provedor dos cidadãos seniores.
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Relações Sociais e Inclusão. As CP-E proporcionam oportunidades de interacção e relacionamento interpessoal entre os cidadãos, realizando actividades que promovem as sinergias intergeracionais. Implementam planos estratégicos e programas de combate ao isolamento e à exclusão social e de resposta a grupos de cidadãos mais vulneráveis. Numa CP-E o valor dos cidadãos, nomeadamente dos cidadãos seniores é reconhecido e todos participam no processo de tomada de decisões que lhes dizem respeito. As políticas e práticas públicas consideram as características e necessidades de todos os cidadãos, nomeadamente dos cidadãos seniores.
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Cultura e Educação ao Longo da Vida. As CP-E oferecem um conjunto diversificado e acessível de actividades culturais e de lazer, que responde aos interesses e capacidades de cidadãos de todas as idades. Existem programas ou recursos educacionais que ajudam os cidadãos a compreender e a planear o seu processo de envelhecimento, que promovem a literacia (nomeadamente a literacia em saúde e financeira). As CP-E proporcionam ainda oportunidades de formação e de aprendizagem intergeracional.
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Participação Cívica e Emprego. As CP-E envolvem cidadãos de todas as idades nas suas estruturas políticas e sociais, incorporando os seus contributos. Existem programas de apoio ao voluntariado e à contratação e manutenção de colaboradores seniores, assim como à flexibilização das opções de trabalho ao longo da vida. As CP-E oferecem condições aos cidadãos para que se mantenham activos e participantes nas suas comunidades, independentemente da sua idade.
O Papel dos Psicólogos na Construção de Comunidades Pró-Envelhecimento
A Psicologia e os Psicólogos podem contribuir para responder adequada e custo-efectivamente aos desafios que o envelhecimento e a construção de Comunidades Pró-Envelhecimento colocam, facto que o reconhecimento da especialidade em Psicogerontologia vem confirmar.
Tendo em conta a sua formação e conhecimento científico teórico-prático sobre o comportamento ao longo do ciclo vital, os aspectos cognitivos do envelhecimento e o impacto psicológico e social do processo de envelhecer, os Psicólogos são profissionais preparados para desempenhar um conjunto diverso de papéis em diferentes contextos de vida dos idosos(públicos e privados).
Por um lado, podem contribuir para um envelhecimento saudável e bem-sucedido, para rentabilizar o potencial de todos os cidadãos em todas as fases da vida e promover um estilo de vida activo, saudável e em que haja envolvimento social com a comunidade e que permita manter e melhorar a qualidade de vida:
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Estratégias de prevenção e redução dos factores de risco. Uma vez que os estilos de vida contribuem significativamente para o risco de desenvolver problemas de saúde, como as doenças crónicas ou a demência, é necessário ajudar a população a modificar os seus comportamentos e a adoptar estilos de vida saudáveis. Enquanto especialistas no comportamento, o papel dos Psicólogos é fundamental nesta tarefa.
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Promoção da literacia e consciencialização pública sobre o processo de envelhecimento, desmistificando crenças e mitos sobre o envelhecimento, promovendo uma visão mais realista, activa e positiva do processo de envelhecimento.
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Facilitar a participação dos cidadãos na vida colectiva da sociedade, através da promoção da aprendizagem ao longo da vida e da cidadania activa.
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Desenvolver programas de prevenção e promoção da Saúde Psicológica e do bem-estar ao longo de todo o ciclo de vida.
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Participar no processo de construção de políticas públicas, planos estratégicos e programas, dirigidos aos cidadãos, considerando a sua diversidade de características, interesses e capacidades funcionais.
Por outro lado, podem ajudar a compreender e a intervir nos problemas que a solidão, o isolamento, a demência e a depressão causam aos cidadãos, nomeadamente aos cidadãos seniores. Assim como envolver-se no desenho e implementação de sistemas de gestão e monitorização da saúde que permitam prevenir e tratar a dor e a doença, tal como nos cuidados paliativos e no fim da vida, entre outros:
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Intervenção nos Problemas de Saúde Psicológica como a depressão e a ansiedade, nomeadamente na velhice.
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Intervenção nos processos demenciais e nas mudanças do estilo de vida e do comportamento associadas. Os Psicólogos podem ajudar os cidadãos em fases iniciais de um processo demencial a construir estratégias e capacidades de copingque lhes permitam reduzir o stresse, assim como optimizar as capacidades cognitivas remanescentes. Os Psicólogos podem ainda trabalhar com os cuidadores, ensinando-lhes estratégias para lidarem com os comportamentos de quem cuidam e com o seu próprio sofrimento emocional.
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Promover a autogestão e auto-regulação das doenças crónicas.
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Promover a adesão à medicação. Muitos problemas de saúde característicos da velhice – como a hipertensão arterial, a diabetes ou a dor crónica – envolvem tomar medicamentos, fazer uma dieta alimentar específica ou exercitar-se com regularidade. Os Psicólogos podem ajudar a integrar estes comportamentos num estilo de vida saudável quotidiano.
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Facilitar processos de perda e luto.
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Ajustamento e adaptação a mudanças e factores de stresse relacionados com as diferentes fases e tarefas desenvolvimentais do ciclo de vida (por exemplo, a passagem à inactividade, o conflito familiar ou a mudança de papéis sociais).